“A região da Baixada Santista não tem “ambiente” para comemorar nada”
[Bárbara Maria B. de Jesus é santista, historiadora e anarquista. Nesta entrevista, concedida à ANA, ela vai na contramão daqueles, principalmente governantes e grandes empresários, que alardeiam que não há mais poluição e degradação ao Meio Ambiente na Baixada Santista, que tudo é um “mar de negócios”, de crescimento “sustentável”. Para a jovem libertária, os grandes projetos que estão sendo divulgados e implantados na região só vão piorar a questão ambiental e social no litoral santista. Ela ainda critica fortemente o modelo econômico contemporâneo: “Essa prática "desenvolvimentista" é um embuste”. E ressalta que “o necessário agora, no patamar que estamos é desacelerar, não apenas na Baixada Santista.” Confira a seguir a entrevista de quem não caiu no conto da “sereia capitalista”.]
Agência de Notícias Anarquistas > Está chegando o Dia Internacional do Meio Ambiente. E aí, dá para comemorar essa data na Baixada Santista?
Bárbara Maria B. de Jesus < (risos) Não, não dá mesmo, ainda temos inúmeros problemas em todo o complexo da região da Baixada Santista. As indústrias de Cubatão continuam a poluir, as maiores indústrias no Estado de São Paulo emissoras de CO2 estão nesta cidade. Além disso, temos a política de expansão do porto de Santos, o que só tende a piorar a questão ambiental e social em nossa região, a poluição das áreas estuarinas de Santos-Cubatão-Guarujá, sem contar a balneabilidade das praias, que sempre estão impróprias, a verticalização cada vez maior dos prédios em Santos e o conseqüente aumento de esgoto, lixo, carros, consumo dos recursos naturais etc. No Guarujá, a água consumida pela população está com índice de coliformes fecais acima do aceitável. E a cada ano perdemos vastas áreas de Mata Atlântica. É cada vez maior a impermeabilização do nosso solo. Também podemos indicar a própria questão das moradias na região. São Vicente é uma das cidades com maior índice de favelização do Brasil, isso já demonstra o descaso dos políticos com iniciativas que realmente modifiquem a situação de miséria das pessoas. Sem ter aonde ir, elas vão parar em áreas de mangue, por exemplo. Veja o caso de “expulsão” dos índios Guarani que está acontecendo na região do Parque Xixová, em São Vicente, com reuniões para resolver o “problema indígena”. Em nossa região a especulação imobiliária ganha ares de “Cosa Nostra”, e nos deparamos com essas aberrações, entre tantas outras, como a construção de resorts de luxo, campos de golfe etc. Assim, podemos dizer que a região da Baixada Santista não tem “ambiente” para comemorar nada.
ANA > E o aumento cada vez maior de veículos de transportes na região, não são problemas seriíssimos? Parece-me insano esse consumismo desenfreado em relação ao automóvel... (risos)
Bárbara < Bom, insano é uma boa definição, a individualização crescente, o consumo desenfreado, a necessidade de “novidades” criam esta situação, cada um com seu carro, com uma arma, pronto para atacar qualquer “inimigo”, que nesse caso são os pedestres, os ciclistas e outros carros. (risos) Isso sem contar o absurdo do excesso de CO2 dos carros e de outros veículos motorizados, das bolhas de calor que ocorrem na Baixada Santista etc.
ANA > E vai ter espaço para tanta “chapa de aço”? Você não acha curioso que em nossa região tenha mais, muito mais estacionamentos que livrarias, cinemas, teatros... (risos)
Bárbara < Olha, do jeito que a coisa está, a idéia é competir com os "astronômicos" engarrafamentos de São Paulo, mais ou menos com a proporção de um carro por pessoa. Mas não podemos esquecer que a cidade de Santos, por exemplo, é uma ilha. Já imaginou, um engarrafamento que é um círculo? (risos)
Em relação às livrarias, é muito triste constatar que não apenas na Baixada Santista, mas em todo o país, o número de livrarias, bibliotecas, hemerotecas são irrisórios. Segundo dados, temos apenas 2.680 livrarias em todo o território nacional. A distribuição entre as regiões, é pior, pois 68% das livrarias se concentram no sudeste e no sul do país. Agora pensemos, o Brasil é um país de extensões continentais, e apenas isso de livrarias? Claro! Afinal, onde tem leitura, tem senso crítico! Algo muito perigoso, não acha? (risos)
ANA > Atualmente há um ufanismo muito grande de governos e corporações em torno da exploração das camadas do pré-sal na Bacia de Santos, em buscar petróleo entre 5 e 7 mil metros de profundidade, mas pouca discussão sobre os impactos ambientais que isso ocasionará. Você entra nesta euforia? (risos)
Bárbara < (risos) É, digamos que eu não sou eufórica... Na realidade o pré-sal é visto como uma "salvação" para a Baixada Santista, o que novamente é risível, e em momento nenhum foi questionado o impacto ambiental e social que isso ocasionará para a região, inclusive a "mídia escatológica" fez reportagens, para explicar aonde se encontrava o pré-sal e todo o blábláblá que conhecemos: empregos, royalties, desenvolvimento etc. Interessante notar, também, que aos olhos de todos, o pré-sal só trará benefícios! É incrível, chega-se a afirmar que nem haverá impacto ambiental! Ora bolas... O lance é o desenvolvimento!
ANA > No Estado de São Paulo, talvez, nossa região seja uma das que mais emite gases do efeito estufa na atmosfera, como o CO2, através das indústrias de Cubatão, das atividades no Porto de Santos, do tráfego pesado de caminhões, motos, carros... Em sua opinião, as pessoas da Baixada Santista estão inteiradas deste grave problema das mudanças climáticas? Com a possibilidade real da elevação do nível do mar na Baía de Santos?
Bárbara < Acho que podemos dividir em duas vertentes: aquelas que não sabem mesmo, e nem imaginam que a elevação do nível do mar, e o conseqüente “alagamento” da região é um fato, e outras que sabem, mas não se importam. Mas não precisa ser um "expert" para perceber o que está acontecendo. As chuvas, inclusive chuvas de granizo, os alagamentos, as "ressacas" em maiores quantidades e mais impactantes, ventanias, o aumento cada vez maior das doenças respiratórias etc. E temos, também, os que não se interessam, não querem modificar nada, querem mais é um carro para cada habitante, se tem bolha de calor, ora, ligue o ar-condicionado! E por aí vai... A grande questão é: a ignorância é vizinha da maldade, e assim, cabe aos que sabem, alardear a notícia, para que todos percebam que essa prática "desenvolvimentista" é um embuste. O necessário agora, no patamar que estamos é desacelerar, não apenas na Baixada Santista. Então voltamos à grande questão novamente: é lutar contra o capital!
ANA > Você falou do aumento cada vez maior das doenças respiratórias na Baixada Santista por causa das mudanças climáticas. Mas sabia que a incidência de doenças respiratórias, câncer no pulmão, na nossa região é um dos mais altos do Estado de São Paulo, dado a exposição da população a diversos produtos químicos, consumo de alimentos contaminados, entre outras variáveis?
Bárbara < Veja só, e eu que pensava que era a região do ABC, não sabia. Vale lembrar que os políticos da região afirmam que aqui tudo é "divino-maravilhoso", ar puro, mar limpo, trânsito calmo etc. Às vezes me pergunto se realmente não vivemos em universos paralelos, eles lá, e nós, aqui, no meio da poluição, do caos urbano, da sujeira, do desrespeito em geral.
ANA > Em sua opinião, a atuação do principal grupo de comunicação da Baixada Santista, Grupo A Tribuna, é de muita manipulação e hipocrisia na cobertura dos assuntos ambientais?
Bárbara < Claro! Temos na Baixada o discurso demagógico de Porto-Desenvolvimento. E aí eu me pergunto: desenvolvimento para quem? Eu? Você? A população dos cortiços do centro de Santos? O Grupo A Tribuna é político, é uma empresa comercial, de negócios, e sempre esteve ligado aos “donos do poder”, sabemos muito bem as intenções por trás do discurso de desenvolvimento da região, mais empregos, arrecadação etc. A questão aqui, é que esse discurso é engolido por muitos, e com o aparato midiático que dá sustento a essa verborragia, fica muito difícil mostrar as pessoas o absurdo que é ser a favor de uma maior verticalização da região, de uma expansão portuária completamente caótica, de mais estradas para a região. Ora, vamos discutir sobre a malha ferroviária quase inexistente nesse país! Aliás, as ferrovias que temos na nossa região foram privatizadas, e não estão servindo para transporte de pessoas, mas para transporte de cargas, soja transgênica... A política brasileira de transportes é centrada em rodovias, na construção de mais estradas, viadutos... E todo mundo acha “normal”! Pensando no Grupo A Tribuna, em alguns momentos reflito que não saímos dos resquícios do Golpe de 64, se é que você me entende... tipo... Pra frente, Santos! (risos)
ANA > Além do Grupo A Tribuna, as universidades também desempenham um papel importante de manipulação, normalização e conformismo social, não?
Bárbara < Claro! Aqui na região, o que predomina são as universidades privadas, e é claro, mesmo que tenhamos algumas que se afirmem “filantrópicas”, visam o lucro. Há algum tempo atrás, tivemos manifestações contra o aumento das mensalidades. Bom, acho que a gênese da questão é muito mais embaixo, a luta não pode ser contra o aumento, mas sim a favor de mais vagas nas universidades públicas. Infelizmente, no Brasil, existe o binômio: alunos de universidade pública – oriundos de escolas particulares. Esse é o problema, e os campi das públicas aqui, ficam relegados a um pequeno grupo de “abastados” que vão morar na praia. A população da Baixada Santista não participa da qualidade do ensino, e o conformismo, a normalização passa por aí. Já viu o campus da UNESP, em São Vicente? É vergonhoso! E nos vemos “lutando” a favor de mensalidades mais baratas. Poxa, isso é muito triste e ingênuo ao mesmo tempo.
ANA > Chama minha atenção também o fato que muitos cursos de gestão ambiental, tecnologia ambiental, e outros mais, são ministrados dentro da perspectiva do “desenvolvimento sustentável”, do crescimento econômico infinito num Planeta finito, de que é possível crescer em harmonia com a natureza, acreditam nas novas tecnologias... E para piorar muitos destes professores são diretores de ONGs ambientalistas, ou fazem parte de conselhos “verdes” de grandes empresas... Tragicômico, não? (risos)
Bárbara < Sim, patético (risos). Andei pesquisando sobre o tema e achei duas "profissões" de meio ambiente, veja só: contador ambiental e gestor ambiental, sendo definido o primeiro como aquele que contabiliza os benefícios e os malefícios de determinado produto em relação ao meio ambiente, e o outro é conhecido como "gerente do meio ambiente". Bom, só por essas já entendemos que o meio ambiente é um empreendimento, onde temos que fazer a "redução de danos", ou seja, produzir cada vez mais, mentindo com a mesma velocidade. É algo como a propaganda do Banco Bradesco: abra uma conta bancária e salve o meio ambiente! Consegue ver relação? Pois é, eu também não. (risos) Esses cursos pretendem é abrir o caminho das empresas para isenção de impostos com o que agora é chamado de "terceiro setor", onde o politicamente correto é alardeado, e assim paga-se menos em tributos, simples assim, na lógica do capital. E preparar alunos para a “sociedade de mercado”, acríticos...
ANA > Te surpreende o fato de muitas ONGs ambientalistas da nossa região não ter em sua base de princípios idéias anticapitalistas?
Bárbara < Não me surpreende, infelizmente. Na realidade, várias ONGs da região da Baixada Santista, e de várias partes do mundo, colocam-se como “terceiro setor”, que nada mais são do que um “braço” das empresas, justamente aquelas que poluem, degradam, causam os maiores impactos ambientais. E dentro dessa “lógica bizarra”, a empresa, a máquina capitalista é empreendedora, e com isso, desenvolvimentista e “do bem”. O que vemos são grupos (partidários ou não), que utilizam termos do “politicamente correto” para conseguir arrecadar dinheiro e marketing pessoal. Isso ocorre aqui na Baixada, isso ocorre em vários lugares. Cito o exemplo das propagandas do refrigerante da Coca-Cola, que está sendo veiculado na TV, faz-se claramente a referência de “compre uma Coca-Cola, e proteja o “meio-ambiente”. (risos) É bem nesse absurdo que muitas ONGs trabalham.
ANA > Além das aberrantes contradições e oportunismos que muitas ONGs ambientalistas carregam, ademais dos dirigismos, hierarquias, centralização... têm o fato que elas desmobilizam, domesticam e superficializam à luta ecologista estritamente no campo jurídico, da democracia burguesa, das representações, criando uma falsa esperança de que advogados, juízes ou promotores vão barrar qualquer projeto. O que você acha?
Bárbara < Concordo plenamente, vejamos exemplos práticos: o loteamento Iporanga, no Guarujá, foi "aceito" pela lei, está dentro de reserva de Mata Atlântica, isso porque nós atualmente só temos 7% de mata original, o megalomaníaco projeto de Silvio Santos, com o grupo Jequitimar no Guarujá é a mesma coisa, a praia, pública, tornou-se privada, e aceita pelos "órgãos competentes". A Mineradora Rio Branco, não diminuiu suas retiradas de cascalho dos leitos do Rio Branco, em Itanhaém, o Mendes, empresário do ramo de construções de Santos, não pára de fazer suas "aberrações artísticas" em formato de prédios que mais se parecem com a Caverna, do Saramago. Esses são pequenos exemplos do que foi "legalizado", amortizado, pela esfera jurídica, e não resolveu os problemas reais que a população enfrenta. E é nesse momento que acredito na validade das ações diretas, como vemos em outros países.
ANA > Como você vê a questão de muitos projetos desenvolvimentistas negativos ao meio ambiente da região ser amparados por órgãos e secretárias ambientais?
Bárbara < O lobby está aí, ele existe, o enriquecimento ilícito também, temos em todo o país uma "máquina viciada" em corrupção, para todos os lados, secretarias municipais, estaduais, ministérios. São órgãos partidários, e suas campanhas são patrocinadas exatamente por esses "bons moços" que querem o desenvolvimento. No final, tudo se resume a uma troca de favores, de dinheiro, de poder... E a Baixada Santista não é nem um pouco diferente, em Cubatão, só faltam afirmar que o "ar é respirável" e querem mais indústrias. Em Santos, todo o excesso de lixo, esgoto etc., e mais prédios, aumentando o Porto, no Guarujá a mesma coisa. Em Praia Grande uma idéia de criar Porto Seco, em Itanhaém, um aeroporto... Eu nunca vi uma secretaria de meio ambiente da região criticar algum projeto de modo efetivo, proibir algo, tudo é "questionável", "resolvível"...
ANA > Às vezes fico me perguntando como na nossa região, que já foi porta de entrada e berço dos anarquistas, até chamada de “Barcelona libertária brasileira”, hoje, praticamente, se transformou num cemitério em termos de lutas sociais, de pensamento critico, antagonista... Você como historiadora, qual a leitura que faz de tudo isso, deste esvaziamento de lutas e idéias?
Bárbara < Penso que a questão é em âmbito nacional, não apenas regional, o que ocorre é um “esvaziamento” de idéias, um mais do mesmo, o papinho do Fukuyama com o Fim da História depois da Queda do Muro. Caramba, muita gente engoliu! Aí caímos de novo no que ocorre no Brasil, essa individualização, esses Big Brothers. O dinheiro norteia a vida das pessoas, eu não sou ingênua, sei muito bem disso, mas, só isso? Você anda nas ruas e ouve as pessoas falando da crise econômica, de uma forma que dá a entender que todos são patrões! O crescimento absurdo dessas igrejas onde a salvação é aqui e agora, onde você precisa ter para ser... Nossa sociedade foi criada na violência, na submissão, com exceções à regra, mas sempre com esse fantasma, não podemos nos esquecer disso.
Temos no Chile inúmeros grupos que se articulam e criticam as políticas de privatização do ensino, por exemplo, aqui em nosso Estado, os professores não conseguem mobilizar uma greve descente, mesmo com as arbitrariedades do governo e a educação pública jogada no lixo. Esse conformismo, do tipo “o brasileiro é pacífico”, é altamente deglutido pelas pessoas, e aí nos vemos com essa patifaria, pequenas mobilizações, juntar meia dúzia de pessoas, e só. Após o 11 de setembro de 2001, realmente o movimento antiglobalização deu uma diminuída, a política do terrorismo ajudou e muito para isso, mas após mais de 6 anos, e com tudo o que está acontecendo em termos de política nacional e internacional, das reuniões de cúpula, das questões ambientais, “crise financeira” etc., há uma possibilidade de mudança, mesmo que em pequena escala. Mas no Brasil, ora, no Brasil... Fica tudo igual! Uma vez li um texto do João Cabral de Melo Neto, que afirmava que as pessoas no Brasil estão muito mais preocupadas no que comer, do que em luta social, acho que em grande parte isso ainda continua, e olha que ele escreveu isso na década de 40. Claro que aqui eu estou generalizando, existem grupos, pessoas, autônomos etc. que querem modificar essa realidade débil em que vivemos, mas na conjuntura geral, nós aqui não conseguimos atingir 1% da população. Tá compreendendo?
ANA > Há potencialidades de surgir novos horizontes de lutas libertárias na região? De mobilizações, ação direta, desobediência civil... Ou são muitas barreiras...
Bárbara < Eu acredito que sempre há possibilidades. (risos) Eu preciso acreditar! Penso que as barreiras são muito mais individuais. Pessoais em um primeiro momento, porque se a idéia é questionar, mobilizar etc., sabemos que a máquina, que a mídia, que o capital irá tentar de todas as maneiras nos “normatizar”, ou, o que é pior, transformar o ideal em um consumo. Por exemplo, se eu quiser fazer um “visual” agressivo, vou à C&A e compro uma camiseta já rasgada, uma calça já manchada, e por aí vai... Mas para conseguir mobilizar, aglutinar pessoas, temos que ter uma parcela da população interessada nisso. Mas, afinal, o que realmente as pessoas querem? Está aí uma boa pergunta, porque qualquer demonstração de ação direta é vista por muitos, e aí vamos colocar partidários ou não, como atitudes “radicais”. Ora, radical é termos seres vivos que moram em caixa de papelão!
Além dessas barreiras, temos os “anarquismos” também, e fica complicado, porque na realidade a luta torna-se uma grande briga de egos, e de “verdades absolutas”. A realização de ações realmente práticas só darão efetivamente certo, no momento em que essas barreiras acabarem, ou na pior das hipóteses, diminuírem. É parar de achar que todos são inimigos em potencial. Então temos duas questões, os “ismos” e as pessoas... ou então ficamos como estamos, com pequenas ações pontuais, e só. Seguindo com paus, pedras e poesias, ou esperando alguma mágica acontecer...
ANA > Faz pouco tempo você retornou do Estado de Roraima. Houve algum momento que você sentiu a força da Mãe Terra? (risos)
Bárbara < (risos) As chuvas amazônicas, realmente são de impressionar, e quando aquelas gotas gigantescas caíam, fazendo o barulho de uma enxurrada, e depois saía aquele sol dos trópicos, onde dava para ver nas poças os girinos, era algo que me deixava "de cara". Mas lá, apesar de todo o esplendor da natureza, se apresentam o mesmo discurso "desenvolvimentista" com os arrozeiros, os madeireiros, os criadores de gado...
ANA > Sua pequena e fofa filha se chama Gaia. É uma homenagem à Mãe Terra? (risos)
Bárbara < Claro! Sempre gostei de mitologia, e as relações entre a Deusa Gaia e a Natureza. Ela como o espírito da Terra, é algo muito poético e belo, inúmeras histórias da mitologia grega relatam o sofrimento de Gaia quando em épocas de guerra entre homens ou deuses que usam aquilo que ela criou com todo o amor, para destruir uns aos outros. Ótimo mesmo é ouvir ela, que tem 6 anos, explicar a genealogia do próprio nome. Simples assim: Gaia é Terra!
ANA > E alguém, mãe ou pai das amiguinhas dela, parentes... já “torceu o nariz” por causa deste nome? (risos)
Bárbara < (risos) Inúmeras vezes! O que me irrita mesmo é quando perguntam e falam: “Ai, que diferente!” Porque nessa hora você, só pelo tom de voz percebe que a pessoa não tem idéia do significado, nem nada. Mas em relação às outras crianças da idade dela, com o nome é algo bem tranqüilo, uma vez que crianças não são preconceituosas, discriminatórias. Elas tornam-se assim, com o passar do tempo, o que é uma pena. Mas a Gaia sabe explicar o nome dela direitinho, e para os adultos também! (risos)
ANA > As últimas palavras são suas.... Valeu pela paciência! E vamos torcer para que os leitores que chegaram até aqui não nos chamem de “eco-apocalípticos”. (risos)
Bárbara < Valeu pelo espaço, e que possamos sim, deixar um "ambiente" para todos que estão aí e os que virão. Meus netos? Talvez... (risos) Para isso, e não tem jeito, é luta, é conscientização, respeito, e compreender, como disse os indígenas da Nação Crê: “Quando a última árvore for abatida, o último rio secar, e o último peixe for pescado, então o homem vai perceber que o dinheiro não é, afinal, comestível.”
agência de notícias anarquistas-ana
"Majestoso ipê
Um dia já foi semente
nas mãos de meu avô"
Eunice Arruda
Um comentário:
Fiquei impressionado com a importância dada a entrevista. Amplo espaço, boas perguntas e respostas completas. Parabéns! Entretanto, achei "over anarquista".
Nós, inconformados com tanto descaso político e humano, somos bem mais do que 1% da sociedade. Como ambientalista, já escutei centenas de pessoas, talvez milhares, reclamando de lixo nas ruas e praias. Daí, sempre pergunto se alguma vez elas ligaram para a Prefeitura local solicitando lixeiras...: NUUUNCA!!!
Falta-nos uma (ou várias) liderança com inteligência, disposição, carisma e PACIÊNCIA para propor mudanças e fazer a diferença em larga escala.
Com tanto conteúdo e reclamações exibidos na entrevista, senti falta de propostas factíveis. Mesmo assim, valeu a leitura.
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