terça-feira, 21 de julho de 2009

Um lugar chamado Cassurubá e a tal da qualidade de vida


Século XXI. Globalização. O planeta conhecido e reconhecido centímetro a centímetro.

No litoral sul da Bahia, próximo às cidades de Caravelas e Nova Viçosa uma pequena região entrecortada por rios, riachos, nascentes, marés oceânicas, florestas de restinga e manguezais foi considerada pelo governo federal como de extrema importância para a preservação e conservação de milhares de espécies animais e vegetais. Da mesma forma foi considerada de extrema importância para a preservação e conservação de manifestações e conhecimentos tradicionais de centenas de famílias que representam ativamente a história viva do Brasil.

Inúmeros setores contrários à criação dessa pequena área de preservação e conservação difundiram pelo Brasil, utilizando os mais diversos mecanismos, notícias infundadas.

Do Senado Federal a jornais locais. De emissoras de rádio a fechamento da BR 101. De porta em porta a telefonemas e articulações na Câmara dos Deputados. Desde inverdades sobre o tamanho, impossibilidade de crescimento econômico da região, interferência negativa para a implementação de empreendimentos em outros municípios.

Esse processo de contrainformação levou centenas de pessoas a se tornarem incrédulas em relação os inúmeros benefícios que poderão acontecer não apenas na melhoria da sua qualidade de vida, mas e principalmente, na manutenção da sua forma peculiar de viver na região.

Criada a reserva, surge o desafio. Qualidade de vida, sim, porém, qual? Que tipo? O seu? A sua qualidade de vida? Baseado em que? Por quê? 

Muitas pessoas da região foram entrevistadas e participaram de pesquisas sobre qualidade de vida e “melhoria” da sua qualidade de vida. Muitos solicitaram muito pouco e principalmente muito menos do que se possa imaginar.

Um dos grandes desafios será realmente “melhorar a vida dessas pessoas”. O motivo dessa dificuldade: não se sabe ainda e ao certo o que é qualidade de vida. Qual é o limite para cima, para o bem? Qual o limite para baixo, para o mal?

Muitos podem pensar que para melhorar é necessário alterar em direção aos mecanismos globalizadores de estilos de vida altamente influenciados por tecnologias de ponta ou facilitadores de comodismo.

No Cassurubá, muitos querem sossego. Isso pode ser melhoria da qualidade de vida deles. Outros querem que as embarcações que trafegam em alta velocidade trafeguem em baixa velocidade. Apenas isso. Outros querem apenas um poço com água boa.  Algumas famílias solicitam apoio médico. Outros requerem ...nada. Sim nada, “assim está bom”. Direito inimaginavelmente simples. Não mude nada.

Quem é quem para dizer que vem para melhorar a qualidade de vida de alguém? É necessária uma imensa quantidade de imersão e convívio dentro dessas comunidades para saber o que é qualidade de vida. Viver de ostras altamente puras? Viver de peixes com um mínimo de concentração de poluentes? Extrair de árvores dezenas de frutos? Ter a cada dia um objetivo simples? Uma televisão é qualidade de vida? Ficar acordado até as 22h assistindo televisão é qualidade de vida? E quem vai acordar às 03h para pegar o peixe ou o marisco?

Muito cuidado ao se criar e ao se interferir. Criar uma reserva extrativista foi ótimo.

Manejá-la é para poucos.

Muita atenção.

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pabloserluz@hotmail.com

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