segunda-feira, 6 de abril de 2009

Elizandra nas palavras !

Elizandra
foto : Edu Toledo


Salve Guerreira....gostaria que se apresentasse para os leitores do blog...de onde você é...o que você faz.

R: Meu nome é Elizandra Souza, tenho 25 anos. Filha de pais nordestinos,nasci na periferia da Zona Sul, mas aos dois anos minha família se mudou para a cidade de Nova Soure, interior da Bahia. Então, sou baiana por opção, alguém um dia disse que você é da cidade que passou a infância, minhas referências são nordestinas.Voltei á São Paulo, em fevereiro de 1996.
Sou estudante de jornalismo do Mackenzie, sou bolsista da política de cotas para negros do Prouni.Sou estagiária da Ação Educativa, no qual faço a pauta e redação da Agenda Cultural da Periferia.
Moro na Zona Sul de São Paulo,região do Grajaú, há 13 anos.



Como e quando começou seu envolvimento com a literatura ?

R:Sempre gostei de ler, comecei lendo gibis, mas eles começaram a ser insuficientes, passei para os romances Júlia e Sabrina de banca de jornal.Não tinha muita referência de leitura, não sabia do que gostava de ler. No Ensino Médio conheci a professora Miriam de português,que me presenteou com um livro que dava dicas de leituras, indicava os clássicos da literatura mundial. Mas eu não li todos.
Um pouco antes, tinha conhecido o Hip Hop, quando cheguei em SP.E nas letras falavam de personalidades negras que eu venerava, mas queria beber da fonte, ler sobre estas pessoas. E como em toda quebrada, as bibliotecas são longes. Eu saia do Jardim Noronha, depois do Grajaú e ia até Santo Amaro na Biblioteca Presidente Kennedy, só para pegar livros emprestados.Depois descobri o Centro Cultural Vergueiro, como eu amo este lugar. Mas é tão longe da minha casa.
Comecei a escrever poesias para publicar no meu Fanzine Mjiba, em 2001.


Você já sofreu preconceito no seu meio de trabalho por ser mulher e no seu caso uma mulher negra?

R:Não. Tenho tido sorte nesta questão, sou exceção, trabalho com pessoas que me respeitam como sou.


Quais suas influências femininas no geral?

R:Na escrita? Na vida? Na militância?
A primeira influência é minha mãe, mulher forte, de fibra, que coloca a família nos eixos..sempre me apoiou em todas as minhas escolhas, incentivadora e financiadora de muitos sonhos e pretensões. Podia faltar tudo,menos o material escolar.
Na escrita são muitas Carolina Maria de Jesus, Elisa Lucinda, Esmeralda Ribeiro, Cristiane Sobral, Conceição Evaristo, Miriam Alves, Mel Adún, Raquel Almeida, Maria Tereza, Dinha, Luciana Dias, Claúdia Canto, Toni Morrison, Geni Guimarães, Zora, Paulina Chiziane, Cidinha, Clarice Lispector,
Na vida, aprendo muito com algumas amigas: Elisangela e Elidivância (minhas irmãs), Luciana Dias, Mighian Danae, Dayane Freitas, Irlandia, Raquel, Ricarda, Jucélia, Adrianas, Thais....entre outras
Na militância admiro Deise Benedito, Ana Lu, Claudete Alves, entre outras.


Você já tem livro publicado né? Fale um pouco desse livro e onde mais podemos encontrar seus textos?

R:Tenho o livro Punga co-autoria Akins Kinté (clique aqui), saiu pela Edições Toró, trata-se de uma reunião de poesias, foi lançado em maio de 2007. Contamos com a participação do Coyote, Marco ZX e Bylla ilustrando o livro. Nossos textos tratam da questão racial, social, amor, cotidiano e outras dimensões.
Participei de diversas antologias: Um segredo no Céu da Boca, 2008 - Edições Toró, coletânea de textos para a mulekada, Sarau Elo da Corrente, 2008 - Selo Edições, Cadernos Negros 29 e 30, 2006-7, Quilombhoje, Negrafias – Literatura e Identidade, 2008 – Ciclo Contínuo, Revista Literatura Marginal Ato III, 2004 – Caros Amigos, organizado pelo Ferréz, Revista Grap – Antologia poética de jovens talentos, 2007.
Os livros podem ser encontrados em mãos...rs..no Sarau da Cooperifa, na Loja Suburbano Convicto, no site da Edições Toró, pode pegar na Ação Educativa comigo. Meu fone (011) 7684-6061.
Quem quiser pode ouvir, meu recital no site da Toró. Clique aqui
Acredita que faltam mais mulheres representando na literatura?
Acredito que elas existem, mas estão com seus poemas trancafiados em gavetas, preso no cotidiano doméstico, nas triplas jornadas, na condução lotada...é preciso dar vazão e estimulo para que estas mulheres possam mostrar seu trabalho.


Acredita que a literatura salva?

R:Não podemos criar mitos, não podemos fazer com a literatura, o que fazem com o futebol, o sonho de ser um jogador bem sucedido.
Tudo pode salvar...até uma bula de remédio. Mas não é a literatura em si, que faz algo, são as nossas ações.


Explique pra nós o que é o Mjiba

R:Mjiba é um fanzine (informativo) que criei em 2001, no qual divulgava Cultura Negra, poesias, trechos de letras de hip hop, entre outras manifestações. Mjiba é uma palavra africana do dialeto Chona, do país Zimbábue. Significa Jovem Mulher Revolucionária. Ele foi publicado até 2005, a última edição foi uma homenagem para ao Preto Jota, do grupo de rap Sabedoria de Vida, que foi assassinado em fevereiro de 2005.


Como você definiria sua escrita?

R:Minha escrita é suave e áspera, doce e amarga, trata da questão racial, do amor, das flores e dos pincéis. A temática é sempre pela minha visão de mulher negra. O gênero na maioria poesias, mas já tenho dois contos: Afagos publicado nos Cadernos Negros 30, Quilombhoje, 2007 e A Primeira Vez que Fui ao Céu, publicado na Antologia o Segredo no Céu da Boca, Edições Toró, 2008. Está disponível no meu blog.

O que representa a Cooperifa pra você?

R:O Sarau é meu santuário, onde posso recompor as energias, a caminhada no dia-a-dia, noite-a-noite, suga e tira nossa energia. Quando não vou no sarau, minha semana, fica meio murcha. As poesias é o pretexto para os amigos se encontrarem, comungarem abraços e sorrisos, sinto que lá pertenço a um lugar, ao lugar que me diz eu sou alguém no mundo, preciso continuar pois tem pessoas que acreditam em mim, no meu trabalho, na minha amizade. Mas é o movimento literário de importância que conheço nas periferias,pois além de ser pioneiro, não está preocupado em formar artistas,mas artistas cidadãos, que saem de lá e se doam a suas comunidades de alguma forma. Vários momentos importantes da minha vida, eu fui compartilhar lá com os que torcem pelo meu crescimento espiritual e social. Lembro da energia maravilhosa, quando entrei na faculdade em 2006, lançamento do nosso livro Punga (Eu, Akins, Edições Toró). Lá é o lugar dos encontros, das tramas, armar contatos, se (re)conhecer no outro, em cada texto, em cada brisa, acompanhar a evolução dos textos..me surpreendi muito com o texto do Lobão, Operação Tapa Buraco, na Antologia Um Segredo no Céu da Boca, Edições Toró. A Cooperifa é meu ritual não-secreto, onde comungo da palavra e da amizade, onde meus textos são fecundados e podem vim ao mundo. São cinco anos de Cooperifa. Lembro a primeira vez que fui, quem me levou foi a Francielle do Jornal Becos e Vielas, quanto mais subia a ladeira, mas a ansiedade crescia. Foi uma das noites mais lindas que tive, e toda quarta é muito louca, sempre aprendo algo, dou risada, choro, grito...enfim todas as emoções cabem nas noites de quartas-feiras. Como toda família temos nossos problemas, mas o amor supera.


Fale um pouco da Agenda Cultural da Periferia

R:As coisas acontecem sempre na hora certa, nem um minuto a mais. Estava há um ano na faculdade sem fazer estágio, com alguns currículos enviados, mas nenhuma entrevista agendada. O Eleilson se lembrou de mim, quando a Adriana Barbosa precisou sair para organizar a Feira Preta. Minha relação com a Ação Educativa, vem de longa data, um pouco depois que conheci o Hip Hop, em 2000,mais ou menos.Quando participava de uma oficina de Elaboração e Gestão de Projetos. Freqüentava as Semanas de Cultura Hip Hop, no qual considero que foi uma das responsáveis por eu ser quem eu sou hoje,as pessoas que conheço. Pra mim estar na Agenda é tudo conseqüência do meu envolvimento com o Hip Hop.
A Agenda Cultural da Periferia foi lançada junto com o meu livro Punga, maio de 2007. No dia tive que dar uma entrevista, falando da importância de uma Agenda Cultural da Periferia, achei louco só o nome dava vazão para a produção cultural que estava (está) efervescente.
Aprendo muito trabalhando nesta ONG respeitada que tem um trabalho sério de Educação, na Cultura ela apenas viabiliza alguns recursos, sede espaço para apresentações e reuniões e agora divulga esta produção que existe independente desta divulgação. A Agenda existe porque tem uma demanda, só estamos atendendo. Mas é preciso que os grupos que querem divulgar, se programem com antecedência, faça um release, tenha uma boa foto com resolução, pois muitas vezes o evento é bom, mas não tem a programação completa, um release descrevendo o evento ou o grupo e a foto precisa ter uma resolução acima de 400kb.
Publicação mensal, tiragem de dez mil exemplares, com 16 páginas, com uma equipe com cinco pessoas: Eu (pauta e redação), Andreza (pauta, redação e revisão), Michelle Ohl (assistente de comunicação), Gledson (diagramação) e Eleilson (coordenador editorial) e alguns colaboradores. Recebemos material até o dia 20 de cada mês, ou seja na penúltima semana. Mandem seus eventos:


E-mail: elizandra.souza@acaoeducativa.org
Tel: 11 3151-2333 ramal 142


Pra terminar deixe um salve pra quem freqüenta nosso blog...e agradeço desde já pela entrevista..é uma honra pra nóis aqui da Dulixo e da Baixada Santista.

R:Primeiro, quero pedir desculpas pela demora, pois a correria, foi adiando estas respostas, como o dia das mulheres é o ano inteiro, acredito que o Tubarão não vai se importar de publicar estes escritos em abril,né?
Gostaria de dizer que, temos que procurar nosso talento em nossas habilidades, pois só ganhar dinheiro, não é meta para ninguém, pois com dinheiro e sem objetivo é folha ao vento, seguidor de vendaval...Gosto de ter ideais e ideologias, fazem com que eu firme o pé no chão e siga meus sonhos como quem segue uma borboleta num floresta.
A honra é minha e a satisfação também. Agradecida pelo respeito.
Gostaria que conhecessem meu blog, site da Toró e da Agenda da Periferia, pois talvez me perceba melhor nessas entrelinhas e entrelinks:
http://mjiba.blogspot.com/
http://www.edicoestoro.net/
http://www.agendadaperiferia.org.br/

Sem mais,
Abraços e beijos poéticos

2 comentários:

Van disse...

Belíssima entrevista!!!
Parabéns!
Van

Mjiba disse...

Valeu pelo convite, Tubarão.
Estamos juntos.
Axé
Elizandra Souza