quinta-feira, 18 de setembro de 2008
In Prison My Whole Life
Novo filme britânico sobre Mumia Abu-Jamal em exibição em Nova Iorque e Oakland
Uma entrevista com Lívia Giuggioli Firth, co-produtora de "In Prison My Whole Life"
[Pela primeira vez desde a estréia norte-americana no Festival de Sundance em janeiro, "In Prison My Whole Life" foi exibido para uma platéia dos Estados Unidos. Este novo filme sobre o internacionalmente famoso jornalista à espera da pena de morte, Mumia Abu-Jamal, foi exibido na semana passada no Festival Urbanworld de Nova Iorque. O filme teve duas exibições, ambas no "AMC Loews 34th Street Theatre": na quinta-feira, dia 11 de setembro, no "Theatre #11" e no sábado, 13 de setembro, no "Theatre #9". Ele será também exibido na Conferência CR10 (Resistência Crítica 10 anos) em Oakland, Califórnia, dia 26 de setembro.]
Este novo documentário britânico estreou no prestigioso Festival de Cinema de Londres e no Festival Internacional de Cinema de Roma em 25 de Outubro de 2007, quando entrevistei William Francome, que é um personagem central no filme. O Trailer do filme começa com Francome explicando que ele esteve "ciente de Mumia desde que consigo me lembrar. Isto porque ele foi preso na noite em que nasci, pelo assassinato do policial de Filadélfia. Como minha mãe freqüentemente me lembra, cada aniversário que tive foi outro ano gasto por Mumia na prisão... Farei uma jornada para saber mais sobre o homem que esteve na prisão minha vida inteira."
Com o aclamado ator britânico Colin Firth como produtor executivo, "In Prison My Whole Life" é dirigido por Marc Evans e produzido por Livia Giuggioli Firth e Nick Goodwin Self. O filme possui entrevistas com personalidades como Alice Walker, Angela Davis, Noam Chomsky, Amy Goodman, Ramona Africa, e músicos como Mos Def, Snoop Dogg e Steve Earle. A Anistia Internacional concluiu em relatório anterior que o julgamento original de 1982 de Abu-Jamal fora injusto, onde fora culpado de atirar fatalmente no Policial Daniel Faulkner, de Filadélfia, e sentenciado à morte. A Anistia Internacional está apoiando o filme como parte de sua campanha internacional pela abolição da pena de morte. O diretor britânico Kate Allen, pertencente à ONG, diz: "é assustador como o sistema judicial dos EUA tem falhado repetidamente em abordar as terríveis violações dos direitos fundamentais de Mumia Abu-Jamal de ter um julgamento justo."
Na entrevista de 2007, Francome divulgou que o filme trará as chocantes fotos da cena do crime de 9 de dezembro de 1981, que foram recentemente descobertas pelo autor alemão Michael Schiffmann e publicadas em seu novo livro.
A edição de 4 de Julho de 2008 do "Abu-Jamal-News" revelou que o filme também traz uma entrevista com o irmão de Abu-Jamal, Billy Cook, que estava na cena em 9 de dezembro de 1981, após o Oficial Faulkner ter mandado parar seu carro. Sendo entrevistado pela primeira vez em vídeo, Cook nega a acusação de ter acertado o rosto de Faulkner, e supostamente provocado o espancamento comprovado por parte do policial, do qual Cook mostra aos entrevistadores do "In Prison" as cicatrizes que ainda possui em sua cabeça hoje. Cook diz: "Eles me prenderam por ter atacado ele, mas nunca encostei a mão nele. Só estava tentando me proteger. Nunca acertei ele. Nunca acertei ele." Cook diz que após ter sido espancado violentamente com uma lanterna policial, Faulkner "foi meio vulgar e grosseiro. E se me lembro corretamente acrescentou um termo racista no meio... 'Volte para o carro, preto."
Em relação às acusações de violência contra Cook, e seu julgamento subseqüente, Michael Schiffmann defende sua palavra em ensaio recente, argumentando que nunca houve evidência concreta de que Cook teria atacado Faulkner, e que as duas supostas testemunhas deram relatos duvidáveis de como Abu-Jamal teria se aproximado de Faulkner e atirado pelas costas.
Nesta nova entrevista com a co-produtora Livia Giuggioli Firth, ela comenta sobre quando ouviu falar pela primeira vez de Mumia Abu-Jamal, sobre a produção do filme, sobre o novo recurso ao Supremo Tribunal dos EUA, e mais. "Desejo que Mumia tenha um novo julgamento, porque ele está confinado em isolamento por 27 anos, o que é uma desgraça. Nunca saberemos a verdade sobre 9 de dezembro de 1981 até então," diz Firth.
Hans Bennett > Quando ouviu falar de Mumia Abu-Jamal pela primeira vez?
Livia Giuggioli Firth < Há alguns anos atrás, num jantar na casa de um amigo, conheci William Francome e começamos a papear (como se faz em festas!). Ele me contou que tinha recém acabado a faculdade e queria fazer um documentário sobre Mumia. Nunca tinha ouvido falar dele então ele me explicou quem era. Quando cheguei em casa e procurei no Google... foi como abrir a caixa de Pandora! Foi o suficiente para dizer: precisamos cavar mais fundo!
HB > Como foi fazer o filme? Que papel você teve como produtora?
LGF < Marc Evans, o diretor, foi quem fez o filme. Eu produzi – o que significa que meu papel foi fazer o trabalho sujo! Mas foi muito interessante começar a "Missão Mumia" do zero e com pessoas que nunca haviam ouvido falar dele. Além de William, nenhum de nós (o diretor Marc, Colin, Nick e eu que produzimos, o editor Mags e por aí vai) tinha idéia das implicações no caso de Mumia.
Se você separar tudo deste "personagem" construído tanto pelos defensores quanto pelos acusadores de Mumia, você encontra apenas um homem que foi vítima de política mais do que qualquer outra coisa. Isto que realmente nos fascinou quando abordamos o assunto, e é por isso que Marc Evans quis contextualizar o caso dentro da história política Afro-Americana. Se você não botar Mumia em contexto – você não consegue entender a história.
Pelo fato do cenário ao redor de 9 de dezembro de 1981 ter sido tão complicado, distorcido e bagunçado, decidimos recorrer à Anistia Internacional – uma organização reconhecida mundialmente por ser completamente objetiva e imparcial – e pedir ajuda. Eles publicaram um livro em 2000 sobre o caso de Mumia e concluíram que é impossível saber se este homem é culpado ou não porque o julgamento estava violando leis internacionais – um julgamento completamente injusto.
HB > Após pesquisar o caso, quais são os 3 fatos que você considera mais absurdos em relação à necessidade de se ter um novo julgamento?
LGF < Existem tantas coisas surpreendentes sobre este caso que superam todo e qualquer ataque por parte daqueles que se recusam a acreditar que isso se trata principalmente de um julgamento injusto. Dito isto, alguns exemplos são:
Primeiro, não foi apresentada ao tribunal nenhuma evidência forense. Eles nunca testaram oficialmente as mãos de Mumia em busca de traços de pólvora, nunca localizaram oficialmente a bala disparada pelas costas de Faulkner, e mais. Com a descoberta das fotos da cena do crime de Pedro Polakoff, você pode ver claramente a confusão que estava a cena do crime aquela noite.
Segundo, as testemunhas apoiando a acusação eram falsas – todas!
Terceiro, o juiz que presidiu, Albert Sabo foi ouvido dizendo, no PRIMEIRO DIA do julgamento, "vou ajudar a fritarem aquele 'preto." E então, para nos chocar ainda mais, o recurso PCRA 1995-97 de Mumia foi ante o mesmo juiz. Tá brincando?
HB > O atual recurso de Mumia ao Supremo Tribunal citará a opinião dissidente do juiz Thomas Ambro (3rd Circuit), que declarou que o tribunal teria criado novos padrões para uma "alegação de Batson", ao negar a alegação de Mumia. Você acha que esta forte afirmação recebeu atenção adequada por parte da mídia?
LGF < Não mesmo, mas também, existem tantos casos péssimos na América como o de Mumia. Tantas pessoas inocentes condenadas por julgamentos injustos. Olhe Troy Davis! Aquele é outro caso terrível.
Esperamos que o filme ajude a fazer as pessoas pensarem e perceberem que talvez exista mais nesta história. E talvez ajudar em outros casos também.
Não se pode julgar Mumia como um "matador de policiais." E também, até que haja um novo julgamento, nunca se saberá se ele é um "assassino à sangue frio" como o chamam.
HB > Você acha que o Supremo Tribunal irá agora considerar o caso de Mumia?
LGF < Está é uma pergunta muito difícil. Eu não sei. Não é muito provável, mas nunca se sabe! Se eu não tivesse esperança, nunca teria produzido este filme!
HB > Seu filme traz uma nova entrevista com Billy Cook. Qual é a importância desta entrevista, na sua opinião?
LGF < Pra começar, Billy nunca comentou nada desde a noite do incidente. Ele não foi chamado para testemunhar e depois "desapareceu". Então esta é a primeira vez que ele teve a chance de falar sobre o que aconteceu naquela noite. Ele não dirá a história inteira até que haja um novo julgamento, mas confirmou algumas coisas interessantes. Assista o filme!
HB > Algo a acrescentar?
LGF < Desejo que Mumia tenha um novo julgamento, porque ele está confinado em isolamento por 27 anos, o que é uma desgraça. Nunca saberemos a verdade sobre 9 de dezembro de 1981 até então.
Trailer do filme: http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=17949640
Hans Bennet é um jornalista independente e co-fundador (com o autor alemão Michael Schiffmann) do Journalists for Mumia Abu-Jamal (Abu-Jamal-News.com).
Hans Bennett: hbjournalist@gmail.com
www.insubordination.blogspot.com
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