segunda-feira, 23 de março de 2009

Reciclagem em crise


Por Daniel Mello, da Agência Brasil

São Paulo - A redução nos preços dos materiais recicláveis causou grandes impactos nos rendimentos dos catadores, e muitos deles estão abandonando a atividade. É o caso da Coopercicla, cooperativa localizada no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo (SP). Segundo presidente da entidade, Joacyr Alvez, nos últimos quatro meses 70% dos cooperados deixaram a atividade. “Tínhamos 75 pessoas trabalhando em três turnos de 8 horas, 24 horas sem parar. Agora só temos um turno que está defasado”, relatou.

A queda de rendimento está relacionada à crise internacional que provocou uma queda forte nas cotações de commodities (alumínio, plástico, papel) que são importantes matérias-primas de produtos. O plástico PET, usado em garrafas descartáveis, teve redução de 20% nos preços, segundo o responsável pelas Relações com o Mercado da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Hermes Contesini.

“O PET reciclado tem inúmeras aplicações, como roupas e tapetes de automóveis”, explicou Contesini. “O mercado todo se ressentiu com a crise.”

Alvez, da Coopercicla, atribuiu o desinteresse dos cooperados com a atividade à diminuição “brutal”, de mais de 70%, nos rendimentos. O lucro de um catador caiu de R$ 900,00 para R$ 250,00 por mês. As contas de água, luz e o aluguel da sede da cooperativa permaneceram as mesmas, enquanto alguns itens coletados pela Coopercicla, como o papel jornal, valem 85% menos.

A Cooperativa Viva Bem, localizada na zona oeste da capital paulista, também teve um índice de evasão de cooperados significativo, de aproximadamente 30%, segundo a presidente Teresa Montenegro. Ele disse que as pessoas estão mudando de atividade ou mesmo voltando à criminalidade por falta de opções.

"Muitos arrumaram outras coisas para fazer, outros não estão fazendo nada e alguns estão fazendo o que não deve”, contou. Montenegro explicou que a estratégia da cooperativa é aumentar a produção para recuperar parte da receita. Com os novos preços pagos pelo mercado de recicláveis, as mesmas 160 toneladas de material que rendiam por volta de R$ 75 mil agora garantem apenas R$ 40 mil para os cofres da cooperativa.

Produzir mais é também o modelo adotado pela Coopere, com sede no centro de São Paulo. O coordenador Sérgio Luís Longo lamentou que os cooperados agora trabalhem 16 horas por dia para conseguir lucro 50% menores dos recebidos na época em que atuavam em turnos de 12 horas. Segundo ele, os membros da cooperativa só não abandonaram a atividade por falta de opção. “Se todo mundo tivesse o que fazer, tinha acabado a reciclagem”, afirmou.

Segundo Sérgio Luís, os cooperados estão buscando outras atividades para lidar com a crise. “Porque se a gente for viver só do lixo, vamos acabar falindo”, queixou-se. Ele alegou que as empresas compradoras de material reciclável “se aproveitam da situação[da crise financeira mundial]” para pagar preços muito baixos pela sucata.

O secretário da Cooperativa de Catadores da Baixada do Glicério, Sérgio Bispo, acredita que a cadeia de produção da reciclagem “é injusta com o catador”. Ele acusou as empresas de obterem grandes lucros comprando o material a preço muito baixo das cooperativas e dos trabalhadores autônomos.

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