quinta-feira, 5 de março de 2009

João


Nasceu João
De parto normal
Mais não foi em nenhum hospital
A bolsa estourou
Ali mesmo no quintal
Sem dar bobeira
A vizinha virou parteira
A irmã caçula enfermeira
O leito caixote de feira

Cresceu João
Igual a outros tantos
Sem conhecer o pai
Sem conhecer escola
De semáforo em semáforo
Vendia bala, pedia esmola
Pra esquecer a fome saco de cola
Aprendeu desde cedo correr dos hómi
Ao invés de atrás de bola

Viveu João
Aos trancos e barrancos
Sonhando em fazer um banco
E assim dar fim a todo pranto
Sem muita dignidade
Nem oportunidade
Uns diziam que por falta de cultura
Outros que já passará da idade
Seguia então a vida
As margens da sociedade
Sonhando um dia achar a tal felicidade

Morreu João
Sobre o olhar da lua
Ali mesmo naquela rua
Que tantas vezes serviu de lar
Onde aprendeu desde cedo
As injustiças enfrentar
Nunca soube o que era amor
Somente ódio, frustração e dor
Pelo menos agora tava livre das garras do opressor

Tubarão

Um comentário:

Estêvão Campos - DF disse...

Licença pra chegar, Tubarão. Acompanho seu trampo pelos blogs e quero te parabenizar pelas correrias e, em especial, por esse poema, que ficou bem louco. Forte a ideia, mano.

Estêvão - DF