sexta-feira, 23 de outubro de 2009

2070

 As cores de abril por aqui ninguém mais viu. 
2070, São Paulo, Brasil. 
Faz frio, frio, um rigoroso inverno. 
Acho que até congelaram meus versos. 
Hei poeta se você visse 
O que aconteceu ficaria bem triste. 
Disso tenho certeza, com o nosso planeta. 
O homem acabou com a natureza. 
Nada é mais como seus versos de outrora. 
O cinza e a solidão é o que domina agora. 
Sem pássaros nem flores. Sem beija-flores. 
Sem beijos nem amores. Só dissabores. 
Sem cheiro nem cores. Sem os sabores. 
Cadê a alegria?Só sobraram as dores. 
Vejo um jardim, na foto que tenho. 
Me emociono, bate forte o sentimento. 
As crianças herdaram essa vida infeliz. 
Sem fauna, sem flora, um quadro bem assim. 
O que restou da Amazônia, os gringos dominaram. 
Vieram exércitos e lá se instalaram. 
A miséria absoluta por aqui se enraizou. 
Até o nosso pantanal já secou. 
A água é escassa, dessalinizada. 
Não tem rio, não tem açude, não tem nada 
A chuva é ácida, é uma lastima 
Isso quando por sua vez quase rara. 
Banho, não tomamos, usamos toalhas. 
Com óleo mineral ausente de água. 
Cabeças raspadas por causa dos piolhos. 
Cuidar da higiene é um grande transtorno. 
Muitas pessoas têm feridas pelo corpo. 
Doença de pele, pela falta de ozônio. 
A água é o ouro dos nossos dias. 
É o salário recebido da grande maioria. 
O ar também é pago é tudo controlado. 
Mesmo poluído, esse é o resultado. 
A comida é algo tipo sintético. 
Campos de cultivo hoje são desertos. 
A roupa é descartável aumentando o lixo. 
Caminhamos sem freio prum breve extermínio. 
O consumo, a produção, a globalização. 
Quebraram o mundo com sua ambição. 
Isso foi previsto, uns até reagiram. 
Mas fomos vencidos pelos políticos. 
Sinto falta da água potável. 
Da chuva lavando as ruas do bairro. 
Da criançada brincando na enxurrada. 
Felizes correndo com a roupa molhada. 
Veja só como sentimos falta. 
2070 da água sentimos falta. 

 por Fanti Manumilde

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