Sou poeta da quebrada
e também vagabundo nato.
Tenho tempo e idéia de sobra
pra tecer esse relato.
Por isso faço o que quero
com a sina de Borba Gato.
Borba Gato tem um "q"
de policia militar.
Vocês mesmo podem ver
pela pose que ele tá.
Esculpido com esse trabuco;
só sabia guerrear.
E foi por essa postura
que ele se desgraçou.
O cabra ficou mais gelado
quando no céu chegou.
E logo na porta de entrada
Tupã lhe recepcionou.
Ele estava esplendoroso
de cocar de pena de arara.
Jenipapo e urucum
coloriam a sua cara.
E dele também emanava
uma linda luz verde clara.
Ao ver aquela figura
Borba gato se escamou.
Sempre grosseiro e arrogante
nesse tom ele falou:
"Me traga o Cristo branquinho
que a Igreja me apresentou."
Tupã deu uma gargalhada
e sua voz retumbou:
"Esse Cristo que tu falas
foi pra terra e não voltou.
Anda pela Faixa de Gaza
colhendo o que ele plantou.
Na ultima vez que eu o vi
foi no dia do carteado.
Tomou um pifão de vinho
e ficou endividado.
Com Buda e com Exu,
Cristo tá de filme queimado.
Queimado também tu estas,
oh, meu bravo bandeirante.
Tu ia descer direto
mas eu quis ver você antes.
Pra saber por que tivestes
postura tão degradante.
Onde estava seu amor?
Nem um pingo de carinho?
Arrasou com as minhas árvores...
Matou os meus passarinhos...
Perseguiu os meus irmãos
e judiou dos meus sobrinhos.
Até mesmo pro povo branco,
ciladas você armou.
Citemos aquele fidalgo
que na emboscada você matou.
Que alma retrógrada é essa
que tanto mal espalhou?"
Borba Gato apavorado
guaguejou pra se defender:
"Fiz isso pelo progresso!
Pra ver o Brasil crescer!
Achei jazida, fundei cidade;
Fiz riqueza florescer!
Se feri seus protegidos
foi por uma causa nobre.
Não tinham tino pro trabalho...
Viviam relações torpes...
Quem se importa com selvagens
sem Deus; de almas pobres?"
Ouvindo aquelas palavras
Tupã logo ficou irado.
Quem era esse cara pálida
que com argumentos infundados
julgava um povo tão rico
e por ele abençoado?
Tupã então vociferou:
"Estas errado no que pensa.
E pagarás muito caro
por proferir essa ofensa.
Tu estás na minha unha!
Ouça agora sua sentença:
Essa sede de riqueza
que permeia sua conduta
maculará esse povo
por eras ininterruptas...
Sendo um povo condenado
a ter uma mente corrupta.
O que era meu Paraíso
você via como merda!
Ouro, cidade e progresso
em troca de vida liberta...
Então, um coração tão duro,
merece um corpo de pedra."
Agora vocês podem ver
Borba Gato ali de pé.
Pagando a sua sentença,
por não ter cultivado a fé
na natureza e na igualdade...
Acreditem quem quiser!
Hoje temos essa lembrança,
que merece ser derrubada.
Escravidão, morte e doença
e a mata devastada...
Em nome de status e posse
e uma mina de esmeralda.
Falou Augusto Poeta;
também tido como rufião.
Temente a Deus e ao Diabo...
Só não treme pra enganação
que Borba Gato Borra Botas
seja herói dessa nação.
Augusto
Hahaha.. linda releitura... me agrada mais pensar que aquela estátua está ali de castigo do qeu pra enfeitar..... parabens
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